quinta-feira, 12 de abril de 2018

NÃO VI MAIS PORTA


Eu estava cruzando a esquina quando o avistei a alguns metros. Já aconteceu com você? Atravessando a rua notei o intenso brilho dos seus olhos e o sorriso aberto de quem convida a entrar. Da beira da porta observei desconfiado. Não entrei, apesar de já estar. Lá dentro tinha sol pela janela, vento frio gostoso no rosto, carinho de dedo no abraço e um cadin de amor. Palavras sairam por entre as frestas da sua juventude, mas nada ouvi. Reticente, segui teus passos. Ali pela primeira vez caminhamos juntos. Rumo pareado na mesma direção, caçando vida na estação. Haja trilho pra tanta jornada. Quantos planos cabem numa expectativa primeira? Sem saber botei vontade a gosto, assim como receita de vida que a gente inventa. Só vontade tem medida frouxa. A gente sai botando. Pronto. Nada mais a se tratar. Findados, partimos. A primeira despedida a gente nunca esquece... Quer dizer, aquela eu não esqueci. Um sol de ouro brindava seu rosto e a placa ao lado dizia stop, como quem diz: congela tempo e contemple a sutileza dessa existência, é rara. Guardei em algum lugar escondido todo essa porção de sentimentos. Claramente, havia mais que existir. Seguimos. Cada segundo que antecipou uma possível declaração qualquer para manifestar ou expor toda aquela morada de afetos, foi um catar desmedido de arrepios. Imaginava: agora vai ser dito. Não vai ter volta! Não teve. Ali entrei e ajeitei meu cantinho. Trouxe toalha, escova de dentes e chinelo. Não é tipo férias de verão ou dias de descanso, era repouso de ser. É, parece que veio pra ficar. Ao menos por uma temporada, certamente. Ninguém traz tanto sem ser pra ficar. Ficamos. Movidos ao desejo de devorarnos, nus, fomos. Senti cada passear de sua língua. O suor e tremer de pernas fizeram-me entregue. Inteligente, adorável, sutil e puro... Era ele e os olhos de brilho e sorriso aberto. Entrei e não vi mais porta.